Destrabalhar é uma Arte

Passei a manhã nas Finanças.
Parece que instalaram um novo sistema de atendimento todo catita. Um painel electrónico, tipo departures/arrivals mas sem voz off, onde a par de uns decretos-lei vão passando umas imagens bucólicas do nosso Portugal. Querem ver se nos distraem, estes!
Entretanto, esta não foi a única mudança.
Dantes era de forma mais descarada que por ali se coçavam e poliam esquinas porque na realidade estavam todos e, ao mesmo tempo, ninguém a atender. Cheguei mesmo a assistir à mais pitoresca cena burocrata. Nós, os infelizes, a olhar para uma montra onde por demasiado tempo cada funcionário se mantinha zeloso sentado na sua mesa correctamente decorada com o molho de papéis, o molho de clips e canetas e o computador. Não levantavam os olhos na nossa direcção. Nós, os infelizes, atrás de uma cortina de ferro.
Mas se dantes era assim, agora os infelizes munidos de senha na mão e sempre à coca no painel funcionam como elemento, ou melhor, partícula que exerce alguma pressão.
Todavia os espertalhões já encontraram forma de fazer a respectiva descompressão. Longe da vista, longe do coração. O que quer dizer que de tempos a tempos estão em serviço urgente nos arquivos.
Ah, claro, esta é para juntar àquela que, desde o aparecimento do computador em qualquer serviço, público ou não, é a demonstração infalível da ignorância, inoperância, do fizeram-borrada-mas-não-querem-assumir ou do simplesmente hoje-não-estou-para-me-chatear: são os eternos problemas do sistema informático.

Passei a manhã nas Finanças e, para acalmar, lembrava-me do O´Neil:

Quando o burocrata trabalha é pior do que quando destrabalha
Antes quero esperar que discuta a bola ou pedal que tem para discutir
com os destrabalhadores dos seus colegas
Antes quero esperar pelo "meu" burocrata
do que ter a desilusão de o ver trabalhar para mim mal eu chegue.

Não há dúvida?!