03 abril 2006

Colisão

Não tenho qualquer tipo de pretensão em ser "crítico" de cinema. Aliás, em abono da verdade, sempre entendi que as críticas de cinema que podemos lêr são, na sua maioria, destituídas de conteúdo ou simples opiniões subjectivas. Poucas vezes me acontece gostar de um filme ao qual a crítica concede destaque. Um pequeno exemplo será o famigerado filme de "cowboys" gays que mais não é do que a demonstração do poder do dito lobbie. Uma opinião subjectiva, de facto.

O que me leva a abordar este tema prende-se, na minha opinião, com aquilo que eu defino como "agradáveis surpresas". O melhor que me pode acontecer, quando vejo um filme, é não estar minimamente preparado para o impacto.

Este fim-de-semana decidi vêr um filme, galardoado com o Óscar de Melhor Filme pela Academia de Hollywood, de seu nome
Colisão. O meu intuito era descontrair e tentar passar o tempo - coisa que a nossa televisão não dos dá com o mínimo de qualidade. Tive uma agradável surpresa.

Trata-se de um filme que "mexe" com qualquer pessoa. Pela sua frieza, dureza e, acima de tudo, por uma das melhores demonstrações de que tenho memória da "natureza" humana. Sentimos de tudo um pouco, de facto.

Não querendo "estragar" a surpresa de vêr o filme - para quem ainda não o viu, apenas posso dizer que trata as relações entre pessoas, o racismo, a hipocrisia, a inércia, a maldade, a solidão e o amor de uma forma simplesmente genial.

Apenas um "cheirinho": Um polícia, absolutamente execrável, manda parar uma viatura pelo simples facto de verificar que, no seu interior, segue uma negra - que estaria em actos "menos próprios". Ao constatar que se trata de um casal de negros, faz tudo para os humilhar. Quando revista a mulher, chega ao ponto de a molestar - apalpando-a alarvemente e perante o olhar impotente do marido. O olhar dos dois é avassalador - transmitindo toda a carga emotiva que aquele momento de pura humilhação transporta. A suprema ironia chega quando, mais tarde, essa mesma mulher tem um acidente de automóvel e é salva pelo mesmo polícia. A sua viatura está prestes a arder e ela, estando presa pelo cinto de segurança, constata ser o dito polícia que a tenta salvar. Confesso que me senti "pequenino" perante o poder destas imagens. Quando a mulher se encontra a salvo, a sua expressão de ódio, reconhecimento e ao mesmo tempo de surpresa e alívio é absolutamente fantástica.

Um filme duro, sem dúvida, mas que nos obriga a pensar no homem enquanto poço de sentimentos antagónicos - umas vezes carinhosos ou simplesmente selvagens. A condição humana pura e dura...

As actuações são, sem excepção, simplesmente brilhantes. Permitam-me que vos recomende este filme.

Título original: Crash
Realização: Paul Haggis
Intérpretes: Matt Dillon, Don Cheadle, Sandra Bullock, Brendan Fraser, Thandie Newton, Ryan Phillippe, Larenz Tate, Jennifer Esposito, William Fichtner, Nona Gaye, Terrence Howard, Michael Pena, Shaun Toub, Bahar Soomekh.

Não há Dúvida?!

9 Comments:

At segunda-feira, abril 03, 2006 11:38:00 da manhã, Blogger SP said...

Ainda não vi o Crash de Paul Haggis.
Mas, na senda das recomendações, sugiro o filme A History of violence de David Cronenberg que, curiosamente, também tem um Crash no seu curriculo cinematográfico.
É um filme inquietante sobre a violência e como esta surge naturalmente e em escalada no seio de uma típica família americana. Quem conhece Cronenberg não espere ver um filme típico à la Cronenberg. Este nada tem a ver com Existenz, Crash ou Naked Lunch, aliás foi feito de encomenda e baseado numa história de BD. Não lhe falta também a pitada de humor q.b a tornear as cenas de violência.
A não perder. Mesmo.

 
At segunda-feira, abril 03, 2006 12:10:00 da tarde, Blogger Lua said...

Cofesso que ainda não fui ver o filme, já estava curiosa e agora fiquei mais...

Beijinho;))

 
At segunda-feira, abril 03, 2006 2:12:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Vou vê-lo durante esta semana. Prometo.

 
At segunda-feira, abril 03, 2006 9:20:00 da tarde, Blogger pedro oliveira said...

Concordo com ambos (sp e ricardo).
Já vi os dois filmes, ambos, questionam os limites, os nossos limites, dois excelentes filmes... quer um quer outro obrigam-nos a questionar sobre os nossos valores.
Às tantas não estamos na sala de cinema, estamos a dialogar connosco... «o que faria eu naquela circunstância?»

Dois filmes que Ortega y Gasset gostaria de ter visionado... «o homem é o homem e a sua circunstância».

 
At terça-feira, abril 04, 2006 12:48:00 da tarde, Blogger Unknown said...

Ainda não vi...mas agora fiquei com curiosidade em ver.

 
At quinta-feira, abril 06, 2006 12:14:00 da tarde, Blogger psac74 said...

Se o sugeres, certamente será um excelente filme! Contudo, terei de esperar que chegue às bancas do videoclube. Tu sabes a razão!

 
At sexta-feira, abril 07, 2006 12:27:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Ricardo,
Tinhas razão, é muito profundo, devo ter choramingado umas três ou quatro vezes.

 
At sexta-feira, abril 07, 2006 4:30:00 da tarde, Blogger Alien David Sousa said...

Ainda bem que a Academia lhe atribuiu o Oscar para filme do ano. Foi mais do que merecido.

 
At terça-feira, março 06, 2007 9:07:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

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