FC Direita vs Esquerda SC

Todo o estádio a cantar, apesar da tarde fria, própria de um dia de Inverno. As equipas, ansiosas pela disputa, perfilam-se no túnel que dá acesso ao rectângulo verde que, diga-se, apesar da chuva dos últimos dias, encontra-se em óptimas condições, devido ao sistema ultra-moderno de drenagem importado dos países baixos...
O FC Direita, depois de uma vitória nas distritais, pretende alcançar mais uma vitória, para fazer esquecer as estrondosas derrotas das competições europeias e do campeonato, organizado lá para os lados de S. Bento. Para tal, conta com uma contratação de monta - é o regresso do atleta que andou nos campeonatos não profissionais, mas que mais vitórias estrondosas conseguiu para o clube (toda a falange de apoio o encara como o Grande Salvador!).
Já o Esquerda SC apresenta uma equipa bastante heterogénea, construída por contratações, umas, possivelmente, mal calculadas, outras, muito indesejadas.
Entretanto, chegam os técnicos do FC Direita - o Mendes e o Castro:
- Tirem-me daqui esses dois que só vêm arruinar a minha reputação, não vêem que eu só estou aqui, por causa dos jovens e dos desempregados... Caramba! - brada o Aníbal, assim, se chama o representante do Direita.
- Pronto, pá! Já cá não estamos... Vê lá! Vê lá! - e acrescentam - depois, não chores.
Do lado do Esquerda SC, um atleta de barbicha grita:
- Comigo não vai haver batota! Ouviram? Não vai haver batota!
O Mário, avançado centro do Esquerda, com a camisola 9, que mal dá para tapar o umbigo, afirma ao técnico José S., enquanto tenta chegar com a mão direita ao pé esquerdo:
- Opa! Aquele Alegre não era necessário, só vai atrapalhar... Ele não tem jeito para a bola.
Ao que o José S. responde:
- Ó Mário, eu também não o queria! Nem sequer lhe ofereci uma camisola da equipa, mas ele acabou por fazer um empréstimo... Que é que queres?!
- Comigo não vai haver batota! Ouviram? Não vai haver batota! - Volta à carga o barbichas, aos saltinhos, enquanto faz uns exercícios de aquecimento.
Nisto, José S., em surdina, conferencia com o Jerónimo e com o Francisco:
- Vocês já sabem, no meio campo a fazer jogo para o Soares... nada de marcar. Esqueçam ali o barbichas, não lhe passem a bola. E caso apresentem um rendimento mínimo desportivo de 5%, terão o vosso prémio de jogo. OK?
- Comigo não vai haver batota! Ouviram? Não vai haver batota! - Já nem é necessário dizer quem é o autor desta exclamação.
- Epa! Ali na minha claque há uma centena de sindicalistas! Fantástico... Afinal, eu estou aqui pelos jovens e pelos desempregados e sou o único que os sei ouvir. - Informa o Aníbal, um pouco a medo.
- Cala-te, pá! Tu és, apenas, um razoável atleta (entenda-se, economista), não sabes falar de mais nada. Nem deves ter amigos! - resinga, de imediato, o Mário, aproveitando a oportunidade para sacar da esquerda e toma que lá vai disto...
- Que qué isso, ó meu!? - ouve-se na telefonia.
Cá fora o povo rejubila. Do lado direito, têm fé que o jogo fique resolvido, logo na primeira parte. Já os apoiantes do lado esquerdo esperam que haja uma segunda parte.
No segundo anel, a nhaca diz a todos que, afinal, quem matou o António foi a Guida, enquanto no terceiro passa a novidade: O Moreiramos e o JB vão ser outra vez pais!
Nisto, um administrador da Betandwin telefona para os escritórios e ordena um novo jogo de apostas: Será que vai ser menino ou menina?
Ao ouvir o telefonema, o eumesmo pergunta:
- Posso apostar já 50 euros, de olhos fechados, em como são meninos anti-marxistas leninistas?
E o jogo, ainda, nem começou...

Não Há Dúvida?!