02 janeiro 2006

Resposta ao comentário de eumesmo

Peço desculpa pela imprecisão, Cavaco só é lacónico quando está virado para o "diálogo". A maioria das vezes, é uma personalidade autista e misantropa que dez anos de governação não permitem esconder. Dez anos de "tabu"e uma conveniente lavagem de imagem poderiam tê-lo feito esquecer, mas a memória, essa função da consciência, só com um rocambolesco episódio orwelliano é que seria apagada.
Os golpes de sinecurismo que os governos de Cavaco infligiram à Administração Pública resultaram neste lindo estado dos cofres públicos. Não fosse ele o homem, e atente-se economista, das nomeações recorde de funcionários públicos, de outros tantos milhares de reformas antecipadas e do aumento da despesa pública. O sistema remuneratório da Função Pública foi obra do professor. E o futuro? Na altura, não interessava. Hoje vivemos nele e, qual salvador isento de remorsos, surge o criador do monstro a exortar à morte da sua cria. E quem é o principal matador? O Eng.ºSocrátes, homem de direita, que, deparando-se com esta situação resvaladiça e insustentável, foi o único que, até ao momento, teve a coragem de fazer reformas sérias e impopulares, mas estritamente necessárias. Portanto, o engenheiro dá a cara, o professor apoia hoje, mas amanhã no momento, porque o vai haver, em que os protestos cheguem a Belém, o professor virará as costas como sempre o fez.
A maior enxurrada de dinheiros europeus veio na era Cavaco. E que se fez com eles? Auto-estradas, uma delas a passar descaradamente por sua casa e outras necessárias, o CCB, betão e mais betão, e o resto do dinheiro foi para encher os bolsos da camarilha e dos chico-espertos. Não é por acaso que emergem nesse tempo, o das vacas gordas, os novos-ricos com os seus jipes e as suas quintas que funcionaram como multiplicadores de dinheiro à custa dos subsídios à agricultura e que hoje não produzem rigorosamente nada, nem nunca produziram. É o que resta do oásis.
Conseguiu, ainda, pôr polícias a bater em polícias, depois vieram as vacas magras, os polícias a bater nos estudantes, o buzinão e as forças de bloqueio.
Como irá exercer a magistratura de influência, um homem que entra mudo e sai calado das reuniões, que se blinda no gabinete e que, de forma paranóica e patética, blinda o seu automóvel e se rodeia de seguranças? O homem que raramente tem dúvidas e nunca se engana? Provavelmente, irá transformar Belém no Olimpo. Provavelmente, passará, num piscar de olhos, de aliado a força de bloqueio.
Acusar Soares de só destilar ódio e nada dizer é, no mínimo, um erro propositado de julgamento e é desonesto. É uma atitude incoadunável num homem que tem sido, depois da presidência, como em toda a sua vida, uma voz activa, tanto nos seus cinco anos como deputado europeu, como nas conferências em que participa por todo o mundo e como presença regular na imprensa. É de todo improvável que Soares faça debates e campanhas inertes e vácuos.

Não há dúvida?!

P.S. Quanto à desenvoltura das propostas de Louçã, nem me vou prolongar muito, apenas digo que a demagogia e o populismo são uma doença infantil que ataca os extremistas.

5 Comments:

At segunda-feira, janeiro 02, 2006 11:50:00 da tarde, Blogger psac74 said...

Psst!!! Posso dizer qualquer coisinha?

 
At terça-feira, janeiro 03, 2006 4:57:00 da tarde, Blogger SP said...

Caro eumesmo, quanto à estrutura do blog nada poderei fazer, é assim que funciona, como presumo que seja assim que funcione o seu.
A subida de alunos no ensino superior seria meritória, se não fosse feita à custa do florescimento de cursos estéreis, nomeadamente no ensino privado, e do alheamento da realidade do mercado (número e qualidade de saídas profissionais disponíveis). Desse por onde desse, o número de licenciados teria de aumentar, para que a nossa imagem lá fora não fosse a dos atrasadinhos na cauda do pelotão. Hoje, muitos, mesmo muitos, desses licenciados estão a engrossar os números do desemprego.
Hoje, alguns desses cursos estão a fechar outros continuam a enganar incautos desejosos de um canudo.
Quanto a opiniões, poderemos ficar eternamente a esgrimi-las, se não veja-se:
Francisco José Viegas, jornalista e membro da Comissão de Honra do professor Cavaco: "A entrevista de Cavaco Silva na TVI tanto me faz que tivesse sido eficaz 'para quem interessa' - a mim pareceu-me fraca." (afinal sempre há jornalistas a apoiar Cavaco e, pelo menos, este não tem o cérebro paralisado)
Quanto a citar VPV, há que ser cauteloso porque a Cavaco, tal como a Soares, por volúpia ou heteronímia, num dia apoia, no outro critica. Um exemplo: "Os portugueses têm opiniões sobre tudo, Cavaco (como se constatou esta semana na TVI) não tem opiniões sobre nada. (...) Não tem opinião sobre a "Europa". Com a maior firmeza e a maior coragem, é um homem sem opiniões. Parece que o país gosta de um candidato assim e que tenciona votar nele. (...) Cavaco aceita naturalmente o titulo de "tecnocrata", e acha até bom para o país que esteja em Belém um "tecnocrata", em vez de um advogado palavroso, à velha moda comicieira e parlamentar, que ele despreza. Anda manifestamente muito esquecido (1). Foram os tecnocratas dele que prepararam com suma competência o desastre de hoje. E ele próprio que inventou o "sistema remunerativo da função pública", princípio e pilar da falência do Estado. Mas Cavaco não se impressiona com detalhes. "Pensa no futuro" e não tem opiniões. Não precisa. A técnica não é matéria de opiniões...é matéria de certezas (...) (in Público)
VPV, apresenta um percurso político igualmente saltitante, apoiou Eanes contra Soares, integrou o governo da AD como secretário de Estado, apoiou Soares contra Eanes no MASP 1, mas, que eu saiba, não integra o MP3.

(1) deve ser o tal do problema de memória...

Guterres teve a herança que Cavaco lhe deixou e, que eu saiba, a sua irrelevância deve-se ao facto de não ser candidato (nem sequer integra qualquer lista de apoiantes), caso contrário o PSD e CDS-PP não parariam de o zurzir. Mas, já agora, e o governo de Durão Barroso? E de Santana Lopes/ Paulo Portas? E, já agora, de Salazar?

Um aparte, não é "caro", mas, continuando com a mesma deferência (pelo menos já não me manda beber para esquecer), "cara".

Quanto ao Post Scriptum, parece-me que não percebeu...

 
At terça-feira, janeiro 03, 2006 8:31:00 da tarde, Blogger SP said...

psac74 said...
Psst!!! Posso dizer qualquer coisinha?

Claro, caro amigo, presumo eu que este blog goza da total liberdade de comentar: comentar posts, comentar comentarios com comentarios e, ainda, para os bloggers,comentar comentarios com posts.
Aliás, já aqui tiveram palavra, ainda que em discurso indirecto, Vasco Pulido Valente, Pedro Picoito e Francisco José Viegas ...
Os seus comentários, caríssimo, são sempre bem-vindos.

 
At quarta-feira, janeiro 04, 2006 10:20:00 da manhã, Blogger psac74 said...

Nâo! Não! Cara amiga.
Continuem,continuem!... senão ainda sobra para mim...

Um beijo amigo

 
At quinta-feira, janeiro 05, 2006 5:39:00 da tarde, Blogger SP said...

Caro eumesmo,

Começo por refutar os seus argumentos redutores e parece-me que lhe está a cair a mão para o sofisma. A mim não me interessam e jamais interessarão os aspectos da vida íntima, familiar e os hábitos de higiene do professor Cavaco. Eu quero lá saber para que lado é que dorme, se dobra o papel higiénico para a direita ou para esquerda, se conta histórias aos netos, se gosta de cozido à portuguesa ou se fica enfartado com uma azeitona, se sobe todos os dias a um coqueiro, se o bolo-rei lhe faz azia e se tem o hábito de se coçar. Não me interessa se ele veste fatos Armani, gravatas Hermés e sapatos Ferragamo.
Quanto ao seu carácter tecnocrata, autoritário e prepotente e ao seu temperamento crispado, assim como o seu Curriculum Vitae (1), não me diga, o caro senhor, que são aspectos desprezáveis para o exercício do cargo de Presidente da República. Pois têm sido estes os factos em que me tenho centrado.
Sugiro-lhe que leia com atenção.
Quanto ao CCB, já percebeu que eu não gosto daquilo. Esteticamente, olhe, acho-o um mamarracho arquitectónico (nem parece do Manuel Salgado da Gare do Oriente e do estádio do Dragão). Não acho que o bom nome no meio os torne divindades inquestionáveis. Também aprecio muito Siza Vieira e Souto Moura, mas considero um atentado o projecto de requalificação da Avenida dos Aliados. Adiante. O CCB uma obra megalómana que era suposto custar 6 milhões de contos e - com as tão habituais derrapagens impunes -acabou por ficar nos 40 milhões. Lá está um exemplo do rigor cavaquista.
Não ponho em causa o trabalho da fundação, que acho que seria igualmente bom num outro espaço e numa obra menos faraónica.

(1) Onde andava Cavaco quando outros andavam a lutar pela democracia? Atrevo-me a adivinhar o que pensava: "não sei no que isto vai dar, mantenho-me aqui caladinho como um rato e depois logo se verá".
NA AD1 começa o seu giro despesista. Contra o que apregoava Sá Carneiro, Cavaco, ministro das finanças, aumenta as pensões (nesse ano subiram 45%, já tinham subido com Mª Lurdes Pintassilgo).
Entretanto, o seu cata-vento dizia-lhe que maus tempos se avizinhavam e os ventos não eram favoráveis a mais despesas. Posto isto, não aceita integrar o governo da AD2. Abandona Pinto Balsemão.
Novas eleições, ganha o Bloco Central. A situação era tal, que Mário Soares teve de recorrer ao FMI. Juntamente com o ministro das finanças, Hernâni Lopes, e com custos na popularidade, recuperam as contas públicas.
A história repete-se a partir daqui.
Novamente, o cata-vento de Cavaco aponta-lhe bons ventos. Entrada na CEE e, com ela, as enxurradas de dinheiro. Sobre isso já falei. Vai fazer a rodagem do carro à Figueira, candidata-se e ganha as eleições.
Recomeça o despesismo. Cria o Monstro (também já falei dele), mas nunca assume a sua paternidade. É o seu ex-ministro das finanças, Miguel Cadilhe, quem o acusa.
No segundo mandato, o panorama internacional volta a ser instável. Começa Guerra do Golfo. Economia mundial desfavorável, Cavaco olha para o cata-vento e vê que está na hora de ir andando. Sai Cavaco e fica Fernando Nogueira.
Acaba o Cavaquismo.

O caro senhor diz-me que os portugueses vão votar na sua obra. A obra de Cavaco já estava feita quando se candidatou à presidência da República e perdeu para Sampaio. Se assim é, por que não ganhou logo ali as eleições? Porque a memória ainda estava fresca.
Quer que eu lhe diga por que vai ele, provavelmente, ganhar? Por que os eleitores do centro (aqueles que oscilam nas votações) querem castigar Sócrates e o PS, achando que Cavaco vai pôr ordem no governo. Não há supra partidarismo algum.

A invocação de Salazar, bem como de Durão Barroso e Santana Lopes foi apenas com o intuito de demonstrar que tem tanto sentido falar deles como de Guterres. Ou seja nenhum.

Mas já que menciona Salazar, saberá, o senhor, que quando era 1º ministro, Cavaco admitiu que a sua referência de chefe de governo era Salazar? Um homem que poderia ter escolhido inúmeras referências democráticas, como Churchill ou, considerando-se um social-democrata, Olaf Palme, escolhe Salazar. Ora isto, para mim, não é um fait- divers, é um sintoma de falta de cultura democrática.

Quanto a Sócrates, é um social-democrata, ao contrário de Cavaco que só o é, para ele e para o PSD, dentro deste quadrilátero. Pode dizer-se que Sócrates pertence à "esquerda moderna", à terceira-via. Assumo que as diferenças entre esquerda e direita são maiores nos extremos do espectro ideológico e que, por isso, para uns, Sócrates é de direita e para outros, de esquerda.

 

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